quinta-feira, 17 de março de 2011

Projectos Ortográficos!

Fez este mês passado de Fevereiro um ano, só nao sei o dia exacto excepto o dia da semana que tenho a certeza de que foi numa terça feira. Estava eu senatada ao meu velhinho computador fixo na minha sala cá em casa quando me lembrei de começar a escrever uns textos, uma especie de livro, entao, ainda em pijama e com o cabelo todo desgrenhado sentei-me na cadeira com rodinhas e comecei a esboçar uma especie de romance, de seu nome: "Segredos". Poucas pessoas sabem deste meu hobby, a escrita, mas nao sabem do conteudo deste meu «livro». Nao vou publicar aqui as minhas 332 paginas do meu manuscrito aqui, como é obvio...no entanto, há outro esboço que eu gostava de publicar. Posso dizer que fala sobre a minha primeira experiencia pessoal no contexto laboral. O Meu Primeiro Emprego. Deixo-vos aqui algumas linhas...

Título - Crónicas de uma vítima de exploração laboral em pleno século XXI

Ars portus miseriae (latim)
(Trad. O trabalho é o abrigo contra a pobreza)

Prólogo

Muitos se devem estar a questionar acerca do porquê, ou seja, a razão para eu ter-me embrenhado neste manuscrito, mas eu explico-vos: o meu nome é Rafaela e tenho 18 anos e tenho uma história para vos contar. No ano ao anterior onde nos encontramos, tive a insana ideia de aceitar uma proposta de trabalho sazonal feita por um antigo patrão para trabalhar num restaurante ao pé da praia do Pedrógão. Mas, como é óbvio, eu só a aceitei pois o dinheiro que ia ganhar me ia dar jeito, pois eu, ao aceitar tal emprego em tal sítio, já tinha uma ideia do que me esperava e, as lembranças do verão anterior, quando eu tinha arranjado emprego pela primeira vez, não eram nada animadoras. Como já devem ter percebido, aquele verão era o segundo verão em que eu ia trabalhar para o dito restaurante. Até aqui, podem pensar vocês, tudo bem, nada parece estar fora do comum, mas o problema não era o facto de ter que trabalhar nas férias de verão ao invés de estar a descansara e a aproveitar os dias de sol tal como todos os rapazes e raparigas da minha idade, mas sim o árduo trabalho, sem dias de folga e que se prolongava desde as nove horas da manhã até noite adentro, fossem meia-noite e meia ou mesmo três horas da madrugada, como chegou mesmo a acontecer uma vez, já para não falar da mentalidade retrógrada dos meus antigos patrões e da maneira, atrevo-me a dizer, quase desumana como nos tratavam. Os meus antigos patrões só viam uma coisa à frente dos seus olhos: dinheiro. Dinheiro, arrogância, mais dinheiro e mais falta de respeito para com os seus empregados. Para quem pense, por um momento que seja, que a minha pessoa está a exagerar em relação ao que aqui vou revelar, engane-se completamente. Há quem se pergunte: Como é que em pleno século XXI, ainda haja tal atitude por parte do patronato em relação aos subordinados? Mas, onde estão os valores morais das pessoas? Onde está o respeito pelo próximo? Pois é, quando se trata de dinheiro, o patrão capitalista não olha a meios para atingir os fins. Quero fazer um pequeno parêntesis na minha crónica para vos dar a conhecer uma citação bastante interessante de Karl Marx e de Friedrich Engels, estes comparam o capitalista com o vampiro: "o capital é trabalho morto que, como um vampiro, vive somente de sugar o trabalho vivo e, quanto mais vive, mais trabalho suga (…) o prolongamento do dia de trabalho além dos limites do dia natural, pela noite, serve apenas como paliativo. Mal sacia a sede do vampiro por trabalho vivo (…) o contrato pelo qual o trabalhador vendeu ao capitalista a sua força de trabalho prova preto no branco, por assim dizer, de que dispôs livremente de si mesmo. Concluído o negócio, descobre-se que ele não era um 'agente livre', que o momento no qual vendeu a sua força de trabalho foi o momento no qual foi forçado a vendê-la, que de facto o vampiro não largará a presa 'enquanto houver um músculo, um nervo, uma gota de sangue a ser explorada' (citação de um texto de 1845)." Como podem ver, esta simples e explicita citação demonstra claramente o que, infelizmente, no tempo em que vivemos, ainda acontece, está, claramente actualizada, se não ligarmos ao ano e à epoca em que foi escrita.

1º Capitulo: Proposta Nefasta

Estavamos nos inicios do mês de Junho e eu ainda estava na escola quando comecei a receber chamadas insistentes do meu antigo e primeiro patrão. De cada vez que ele me ligava, suspirava. Não estava com nenhuma disposição para passar dois meses na companhia daquele casal de uns cinquental e tal anos, arrogante e avarento, mas a minha mãe não queria ter-me em casa durante dois meses inteiros sem fazer nada a não ser, basicamente, comer e dormir. Em inicios do Estio, os dias eram já bastante longos e quentes. O clima abafado e quase sufocante para quem vive numa cidade, estava a tornar-se rapidamente insuportavel. Tal como eu, também a minha irmã mais nova tinha arranjado emprego, apesar de eu saber que ela tinha sido, sem sombra de qualquer dúvida, mais esperta do que eu, pois não se atreveu a voltar a trabalhar no mesmo sítio onde tinha estado precismanente um ano antes. Já eu, não tinha sido lá muito inteligente deixei passar o tempo sem me entregar à ardua tarefa de procurar um trabalho para estar entretida nas férias de Verão. Os dias foram-se passando rapidamente até que, certo dia, ou melhor, certa tarde, os meus antigos e primeiros patrões me apareceram à porta de casa com o seu semblante cinico, com sorrisinhos hipocritas que já não me tapavam os olhos como da primeira vez, e armados em salvadores da pátria (como se a nossa pátria tivesse salvação alguma!) e madres teresas de Calcutá, só porque pensavam que estavam a ser generosamente solidários ao darem-me emprego. Tretas. Eles estavam desesperados por angariar empregados para os aturarem no seu restaurantezeco, mas, não tinham grandes hipoteses pois as pessoas que lá trabalhavam uma epoca sazonal, geralmente, não voltavam e, as que voltavam, era por não terem arrajando um sítio melhor para trabalhar nas férias de Verão. Esse casalinho irritante e ignorante não se cansava de repetir, com ar falso, que eu podia estar à vontade com eles, pois, afinal nós eramos vizinhos. Aquela designação de vizinhos davam-me e ainda me dá, voltas ao estomago. Na verdade, nós não eramos vizinhos, nem tão perto disso. Falsos. Arrogantes. Oportunistas. Hipocritas. Selvagens. E outros tantos nomes depreciativos quantos hajam, se podem aplicar àquele casalinho desprezivel. Ainda pensei em só trabalhar no mês de Agosto porque ainda tinha uns exames pendentes, mas eles argumentaram que se eu não fosse trabalhar para eles, logo a partir do primeiro do dia daquele longo mês de Julho, poderia, no mês de Agosto, não ser necessária a minha ajuda. Tretas. E mais tretas. Um argumento estupido sem nexo algum, tal como eu pensei. Mas os acontecimentos posteriores só vieram confirmar e enfatizar as minhas desconfianças, estas prendiam-se com o facto de que, afinal, os meus queridissimos primeiros e antigos patrões, não tinham assim tantos empregados para integrarem o quadro de funcionarios necessário para pôr um restaurante com churrasqueira e comida para fora, juntamente com tres salas de refeições, a funcionar em pleno, com todas as condições laborais prescritas na lei portuguesa. Lei. Isto deixa-nos num impasse, no que dizia respeito a denunciar-mos as quebras e as infracções legais cometidas naquela espelunca a que muitos chamam de restaurante. Digo isto porque, em primeiro lugar, nós deveriamos ter um seguro laboral e eu desconfiava que tal não existisse pois se tal existisse, os pais dos empregados menores de idade deveriam de assinar toda a papelada burocrática requeridas pelas entidades competentes. O meu querido primeiro e antigo patraozinho, fazia os supostos seguros por telefone e somente nos pedia os nossos nomes completos e mais nada. Estranho, não acham? Pois, também eu achei! Em segundo lugar, nós, os empregados, nem deveriamos estar incritos nas finanças como trabalhadores legais daquele restaurante. O mau primeiro e antigo patraozinho tentou controlar as nossas desconfianças argumentando que, se nós estivessemos declarados como trabalhodres por conta de outrém nas finanças, teriamos que começar a fazer descontos para estas e a declarar os nossos rendimentos às mesmas e que não valia a pena estarmos incritos só por causa de dois meses de trabalho. Tretas, mais uma vez. Eu, na minha opinião, acho que, mesmo que se estivesse inscrita nas finanças, a pessoa que ia descontar eram os meus pais, pois eu ainda vivia com eles e estava a estudar, pelo menos, é o que eu penso. Mas, de uma coisa que tinha a certeza: se eles por acaso declarassem os funcionários que tivessem a trabalhar como eles, teriam que pagar mais e eles não eram nem são pessoas de se desfazer do seu precioso dinheiro. Em terceiro lugar, os meus primeiros e antigos patrõezinhos não tinham o sistema de pagamento por multibanco integrado no restaurante, com a desculpa de que teriam que pagar uma taxa não do quê para o terem, o que deixava alguns clientes, quer os habituais, quer os novos clientes, nada satisfeitos com o serviço. E adivinhem vocês quem é que tinha que ouvir os seus lamentos e queixas? Sim, estão certos, nós os empregados que os estavamos a servir. Depois haviam os filhos e as noras. Pessoalmente, eu só tinha respeito por uma das noras e por um dos filhos, porque, pelos outros, na minha opinião, não mereciam muito o meu respeito, ainda que eu não tivesse nada contra eles. Prefiro não mencionar os nomes destas personagens que eu estou a caracterizar, simplesmente para preservar a privacidade de alguns dos membros da sua família. Voltando à visita dos meus queridissimos e estimadissimos primeiros e antigos patrõezinhos, dos quais eu guardo tanta estima como a um monte de esterco de cavalo, estes, ao tomarem conhecimento, devido à grande boca da minha minha, de que eu estava desempregada, atiraram-se a mim como abutres tentanto obter uma grande refeição fácil. A sua filha será tratada como se fosse da família, diziam eles, com falsos sorrisos. Se o diabo existia, porventura, ele estava de férias na terra, misturados entre os humanos e alojado naquelas almas perdidas e maquiavelicas. Não vos é muito dificil adivinharem qual tinha sido a minha resposta. Sim, é verdade, aceitei, não por eles ou por pena deles, mas porque o dinheiro que podia ganhar, o ordenado e as gorjetas, me dariam alguma margem de manobra para comprar as minhas coisas sem ter que pedir dinheiro aos meus pais. Depois de se tratarem de alguns pormenores, nomeadamente, o dia e a hora em que os meus queridissimos e estimadissimos primeiros e antigos patrõezinhos, finalmente nos vimos deles e as energias negativas que os mesmos emanavam. Mas o que mais me fazia sentir repulsa daquele casalinho irritante, era a atitude e mentalidade fascista do marido da minha primeira e antiga patroazinha. Aquela atitude de tratar os empregados como se fossem gado, revoltava-me de uma maneira tal que eu nem a consigo exprimir por palavras. Simplesmente, não há palavras para a descrever. Costuma-se dizer que com a idade vem a sabedoria, mas no caso daquele casalinho, a sabedoria veio com outros atributos não tão louváveis, como a avareza, a arrogância e a falta de humildade e de honestidade para com os outros, para com os empregados e até mesmo para com os clientes habituais ou que pela primeira vez estavam a frequentar o seu restaurante e que, se não fossem eles estes, o seu negócio não lhe daria uma vida folgada e, sem esquecer os empregados que são uma importante peça no funcionamento, organização e limpeza daquele estabelecimento. Outra atitude pouco ética é a de estarem constantemente a falar mal dos vizinhos e dos donos dos outros estabelecimentos, isto para não falar dos clientes que frequentavam os ditos estabelecimentos (como se o restaurente deles e eles mesmos fossem exemplo para alguém neste mundo!). As aulas estavam a terminar e os dois meses seguintes avizinhavam-se negros, no ponto de vista da minha sanidade mental. Mas eu sabia o que me esperava naqueles dois meses e, para além da ansiedade para que o mês de setembro chegasse depressa, este já era o meu desejo no mês de Junho. A minha irmã chegou mesmo a dizer que eu era muito corajosa para voltar àquele sítio, afirmação da qual eu discordo pois era a parte na remuneração que eu estava focada, mas para isso, eu teria que aguentar dois meses de tortura psicologica e mental arrisco-me a afirmar que, houve dias em que a minha sanidade mental estava mais para lá do que para cá, em detrimento da dor fisica que, ao pé da dor mental, nem dava para comparar sequer. Mas já vos irei explicar isto melhor, à posteriori. Naquela tarde, em que tinha recebido tal honrosa visita, comecei a esboçar uma lista de coisas que teria que levar pois ia estar dois meses longe de casa. O essencial seriam a roupa e os produtos de higiene. Depois, não podiam faltar, como é obvio, alguns intrumentos tecnologicos para me entreter, ainda que o tempo para o entretenimento fosse bastante escasso ou, aundo esse tempo se porpocionava, era ocupado a descansar o corpo e a mente, de preferência, longe dos olhares indiscretos e cortantes dos patrõezinhos. De volta à minha lista de pertences indispensáveis para levar para o meu novo lar provisório, não podiam faltar os meus ténis, muita paciência e tolerância para não levar a sério as atitudes e os comentários dos meus queridissimos estimadissimos primeiros e antigos patrõezinhos. Nada melhor do que uma boa dose de paciência para os aturar, pois só facto de conviver com tal gente era pior do que apanhar uma moca da pior porcaria que se compra por supostamente relaxar (bem, se realmente relaxa como dizem, não sei, pois não sou simpatizante de tais susbstâncias nefastas para o corpo e a mente, humanos!). Sabem aquelas pessoas que têm a mania irritante de meterem o bedelho onde não são chamadas e de opinarem sobre a vida e as atitudes dos outros, mesmo não sabendo grande coisa da vida dessas pessoas? Pois, claro está, aquele casalinho mediocre é assim mesmo. Sem escrúpulos. Sem vergonha no focinho. Depois de a lista estar terminada e de o grande saco preto de desporto estar pronto para ser utilizado, só me restava esperar pelo dia da partida: o longo e fatídico primeiro de Julho. Outro ponto negativo a apontar àquele casalinho, é bastante comum no seio de nós portugueses, ainda que, como tudo, haja escassas excepções, mas que as há, felizmente, há. Refiro-me à pontualidade. O aparecer em determinado sítio à hora marcada. Para mim, a pontualidade é uma demonstração de respeito e apreço por outrém. Na noite anterior à partida, demorei bastante tempo a adormecer, não porque o dia seguinte fosse trazer, porventura, um dia animado ou excitante, mas porque a ansiedade e o meu conhecimento vivido do que iriam ser aqueles dois longos e desgastantes meses de Verão, me atormentavam a mente. dias depois de ter aceite a proposta nefasta do casalinho disbólico, recebi uma resposta a um anuncio que eu tinha posto numa entidade que trabalhava em conjunto com o centro de emprego, para trabalhar numa loja de roupa num centro comercial novo que estava prestes a abrir no sítio onde moro e tive que recusar, o que me arrependo e muito de ter feito, pois já tinha dado à minha palavra àquele casalinho desonrado. O trabalho num loja de roupa seria muito melhor e menos cansativo do que enfiada numa minuscula e imunda cozinha de um restaurentezo, longe das pessoas de quem eu gostava e rodeada de inimgos desconhecidos (rodeada de pessoas tão diferentes de mim!). Quando falo em imundisse não me refiro a sujidade fisica do espaço mas sim à sujidade mental dos meus queridos patrõezecos. Os dias desse mês de Junho foram passando e eu só desejava poder voltar atrás e mudar a asneira que tinha feito. Mas praeterita mutare non possumus, ou seja, não podemos mudar o passado.


2º Capitulo: A Viagem

Ainda era cedo, no dia da partida, quando eu já estava pronta para deixar a minha casa, os meus gatos , o meu quarto, que partilhava com a minha irmã mais nova, e a minha caminha, por dois longos meses. Ao contrário do ano anterior, em que tinha levado pouca coisa, e, apesar de só levar uma mala de desporto grande e a minha mala de tiracolo da escola, com os apontamentos para um exame que eu tinha que fazer, daquele primeiro de Julho a quinze dias, eu só não sabia como e quando é que ia estudar, estas pesavam chumbo. Os meus queridos estimadissimos primeiros e antigos patrõezinhos tinham-me que eu ia ter uma colega de trabalho que era de lá perto, ou seja, que eu teria que ajudar e explicar como funcionavam as coisas naquele restaurante, ainda que eu já não me recordasse de algumas coisas que tinha aprendido lá, mas que, com o treino, e lá no fundo do meu confuso inconsciente, eu ainda não as tinhas esquecido completamente.

...


E aqui fica um cheirinho das minhas demandas escritas...

1 comentário: