sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Dia 6 de Janeiro de 2011 – 18:52

O ano ainda só começou há uns míseros seis dias e eu já me sinto impotente e sem expectativas ao que de bom ele poderia trazer-me. A cada dia que passa cada vez mais me afundo em revivalismos e utopias e a solidão apodera-se de mim como uma droga se apodera de quem a usa. Nesta noite chuvosa e de tempestade sinto-me perdida e sem nada mais a que me agarrar. Todos os meus sonhos nunca passarão de isso mesmo: sonhos. Sinto-me um trapo. Nem vontade tenho de me levantar da cama e de me arranjar. Até as necessidades básicas como comer ou até mesmo me pentear são um suplicio. Estaria a ser cínica se dissesse que nunca me tinha passado pela cabeça por um termo a isto tudo. Afinal, o que tenho eu a perder?! Na verdade, pouco ou nada. Aliás, pensando melhor, nada. Eu não tenho nada a perder se deixar este mundo, ainda que haja uma coisa que me atormenta e que eu gostava de resolver antes de partir, isto se eu conseguir a coragem necessária para o fazer, e estou a falar de ambas as coisas que ocupam a minha mente: abandonar esta vida e pedir perdão à única pessoa que consegui amar neste mundo. Foi um amor à minha maneira, ainda que haja pessoas que teimem em insistir na ideia absurda de que eu estava obcecada por ele. Sou culpada desde já por ter tirado fotografias dele do facebook e do hi5. Estou num estado lastimável e completamente sozinha e desamparada. Tal como o ex-líder do movimento dos direitos dos negros, Martin Luther King, assassinado em 1968, I have a dream. I have a dream a little more different than him. Mas o meu sonho é diferente do que ele tinha, ainda que identicamente a este, naquela altura, um tanto ou quanto utópico. Gostava de ter uma família normal. Unida e feliz. Mas ao invés tenho uma mãe que mal sabe tomar conta dela quanto mais de mim e um pai ausente que mais não faz do que nos fazer sofrer. Tenho consciência de que magoei algumas pessoas durante estes infortunados 19 anos de existência. Mas se tivesse oportunidade só pediria pedir perdão a uma dessas pessoas, ainda que de longe, sei que lhe causei alguns transtornos e que não fui correcta, sei que isto não é desculpa mas, eu era só uma miúda de 13 anos deslumbrada com o rapaz bonito e popular da escola. Eu era só a menina de 13 anos com óculos graduados, com uns quilinhos a mais e sem qualquer beleza. Que cliché. No fundo eu sabia que ele nunca iria olhar para mim, mas mesmo assim tive certas e determinadas atitudes condenáveis e, se fosse hoje e se eu pudesse voltar atrás seis anos, não voltaria a repeti-las, jamais. Gostava de saber o que vai cabeça dele, as duas hipóteses principais são: ele já se esqueceu das minhas figuras tristes, quando o seguia ou lhe mandava mensagens e nunca deu muita importância a isso, ou, ele ainda se lembra de tudo. Qualquer uma delas é provável, mas, aqui para nós, acho que, muito sinceramente, ele nunca ligou muito a isso, afinal ele tem mais coisas em que pensar. Mas eu não me esqueci e isso atormenta-me cada vez mais. Há ainda duas situações que gostava de expor. A primeira prende-se com o facto de eu o ter ofendido sem razão. Eu explico, ainda que já não me lembre muito bem de todos os pormenores: ele costuma dançar no átrio do Bloco C da escola onde eu andava. Oh e dançava mesmo bem, ainda que não percebesse muito daquele estilo de dança, e eu gostava imenso de o ver dançar. Ele parecia que tinha nascido a dançar. Ele costumava fazê-lo nos intervalos e haviam sempre muitos alunos a assistir. É claro que a minha ex melhor amiga andava sempre a gracejar pelo facto de eu insistir em ir vê-lo dançar. Eu até a compreendia visto que o, vamos chamar-lhe, estilo de vida dele não tivesse nada em comum com o meu. Era mais o oposto. Apesar das gracinhas e dos comentários o que me fascinava mais nele não era o seu aspecto físico, mas a maneira como ele dançava. Era fantástico. Adiante. Naquela manhã, não sei bem porquê, pouco antes de terminar o intervalo, decidi mandar-lhe uma mensagem. Raios, foi a coisa mais estúpida que fiz. O que lhe disse não foi sentido. Foi uma valente estupidez. Ele, e com toda a razão, respondeu. Aquilo que anteriormente era adrenalina tinha-se transformado me pânico. Não por ele ter ficado furioso, mas pelo que ele respondeu. Não me lembro da totalidade da mensagem, mas houve uma parte desta ficou gravada na minha mente, e era algo do género: “quando eu descobrir quem vais-te arrepender de me teres mandado mensagens”, era algo parecido com isto. Admito que fiquei cheia de medo. A segunda situação, mais longa no tempo, prende-se com uma mensagem em branco que eu recebi dum tal Jota. O mais curioso é que pouco tempo antes de ter recebido essa mensagem tive um sonho bastante estranho: lembro-me de estar sentada nas escadas que davam para o primeiro andar do Bloco A da minha antiga escola e o meu telemóvel começava a tocar, e tocar incessantemente. Eu tentava desligar o som, mas não conseguia. Isto foi o que ficou desse sonho. Agora, vamos ao que se passou: eu estava com duas amigas e estávamos sentadas no muro de pedra que rodeava um grande canteiro, perto do campo de jogos da minha antiga escola. Ele estava perto, bastante perto até, e estava sozinho, sentado num dos bancos de pedra, a poucos metros de mim e das minhas amigas. De repente, o meu telemóvel começa a tocar e eu fiquei tão atrapalhada que demorei algum tempo a tentar desbloqueá-lo. As minhas amigas levantaram-se e correram para mim. O meu coração estava aos pulos. As minhas amigas queriam saber de quem era a mensagem mas eu manei-as sentar e ficarem quietas. Foi então que eu olhei para ele, e ele estava com o telemóvel na mão e olhava muito intrigado na minha direcção. Eu sentia-me a corar e doía-me a barriga. O coração parecia que ia implodir dentro de mim. E foi assim que comecei a trocar mensagens com o tal Jota. Apesar de as minhas amigas terem zombado da minha teoria absurda de que o nome Jota não era verdadeiro e que era ele que me mandava mensagens. Ao principio até eu duvidei disso. Mas houve indícios que me fizeram apostar nessa hipótese: primeiro, ele disse que andava numa escola diferente da minha e que tinha treze anos, portanto e, supostamente, era mais novo do que eu, mas algo não batia certo e um dia ele mandou-me uma mensagem a perguntar o nome da minha irmã ou se a minha irmã se chamava carina, sinceramente já não me lembro bem. Mas eu nunca tinha mencionado sequer que tinha uma irmã. Tentei marcar vários encontros mas, estranhamente, ele tentava-se escapar a todos e numa dessas escapadelas, zangamo-nos, tudo isto por mensagem obviamente, e ele chamou-me pita. Isto para as pessoas normais era só mais um insulto mas, para mim, só me dava mais certezas acerca da mentira que ele construiu. Enfim, acabei por nunca descobrir quem ele era. Porque raio me tinha mandado mensagens. O que pretendia. Hoje, sinceramente, acho que quem quer que ele fosse, partindo do principio que era um ele, tipo, agora que estou a reviver estas situações não percebo como é que eu não pus a hipótese de esse tal Jota ser uma rapariga. Seja como for, agora penso que ele ou ela só estavam a gozar com a minha pessoa. Apesar de tudo o que falámos e de tudo o que eu disse ao Jota, do qual já não me lembro de quase nada, está tudo muito fragmentado na minha memória, eu não era completamente ingénua. Desde que tinha posto na cabeça que ele poderia ser o Jota, o que me ocorreu logo no princípio, com a primeira mensagem, ainda que possa ter sido só uma coincidência, e ainda que isso não me convença totalmente, eu medi bem as coisas que revelei sobre mim e era muito cautelosa nas mensagens. Tenho pena de já não ter o número do Jota, devo tê-lo perdido aquando do colapso da bateria do meu primeiro telemóvel. Mas, o que poderia mudar se eu conseguisse retomar o contacto com esse tal Jota? Quem me garante que não era a namorada dele da altura, a fazer-se passar por rapaz, depois de ter sacado o número do telemóvel dele. Jota poderia muito bem ter sido uma rapariga. Mas há uma coisa que eu gostava de um dia poder dizer, aliás, até há duas coisas: gosta de lhe pedir desculpa e que ele me perdoasse e gostava de ser amiga dele.