quinta-feira, 17 de março de 2011

Projectos Ortográficos!

Fez este mês passado de Fevereiro um ano, só nao sei o dia exacto excepto o dia da semana que tenho a certeza de que foi numa terça feira. Estava eu senatada ao meu velhinho computador fixo na minha sala cá em casa quando me lembrei de começar a escrever uns textos, uma especie de livro, entao, ainda em pijama e com o cabelo todo desgrenhado sentei-me na cadeira com rodinhas e comecei a esboçar uma especie de romance, de seu nome: "Segredos". Poucas pessoas sabem deste meu hobby, a escrita, mas nao sabem do conteudo deste meu «livro». Nao vou publicar aqui as minhas 332 paginas do meu manuscrito aqui, como é obvio...no entanto, há outro esboço que eu gostava de publicar. Posso dizer que fala sobre a minha primeira experiencia pessoal no contexto laboral. O Meu Primeiro Emprego. Deixo-vos aqui algumas linhas...

Título - Crónicas de uma vítima de exploração laboral em pleno século XXI

Ars portus miseriae (latim)
(Trad. O trabalho é o abrigo contra a pobreza)

Prólogo

Muitos se devem estar a questionar acerca do porquê, ou seja, a razão para eu ter-me embrenhado neste manuscrito, mas eu explico-vos: o meu nome é Rafaela e tenho 18 anos e tenho uma história para vos contar. No ano ao anterior onde nos encontramos, tive a insana ideia de aceitar uma proposta de trabalho sazonal feita por um antigo patrão para trabalhar num restaurante ao pé da praia do Pedrógão. Mas, como é óbvio, eu só a aceitei pois o dinheiro que ia ganhar me ia dar jeito, pois eu, ao aceitar tal emprego em tal sítio, já tinha uma ideia do que me esperava e, as lembranças do verão anterior, quando eu tinha arranjado emprego pela primeira vez, não eram nada animadoras. Como já devem ter percebido, aquele verão era o segundo verão em que eu ia trabalhar para o dito restaurante. Até aqui, podem pensar vocês, tudo bem, nada parece estar fora do comum, mas o problema não era o facto de ter que trabalhar nas férias de verão ao invés de estar a descansara e a aproveitar os dias de sol tal como todos os rapazes e raparigas da minha idade, mas sim o árduo trabalho, sem dias de folga e que se prolongava desde as nove horas da manhã até noite adentro, fossem meia-noite e meia ou mesmo três horas da madrugada, como chegou mesmo a acontecer uma vez, já para não falar da mentalidade retrógrada dos meus antigos patrões e da maneira, atrevo-me a dizer, quase desumana como nos tratavam. Os meus antigos patrões só viam uma coisa à frente dos seus olhos: dinheiro. Dinheiro, arrogância, mais dinheiro e mais falta de respeito para com os seus empregados. Para quem pense, por um momento que seja, que a minha pessoa está a exagerar em relação ao que aqui vou revelar, engane-se completamente. Há quem se pergunte: Como é que em pleno século XXI, ainda haja tal atitude por parte do patronato em relação aos subordinados? Mas, onde estão os valores morais das pessoas? Onde está o respeito pelo próximo? Pois é, quando se trata de dinheiro, o patrão capitalista não olha a meios para atingir os fins. Quero fazer um pequeno parêntesis na minha crónica para vos dar a conhecer uma citação bastante interessante de Karl Marx e de Friedrich Engels, estes comparam o capitalista com o vampiro: "o capital é trabalho morto que, como um vampiro, vive somente de sugar o trabalho vivo e, quanto mais vive, mais trabalho suga (…) o prolongamento do dia de trabalho além dos limites do dia natural, pela noite, serve apenas como paliativo. Mal sacia a sede do vampiro por trabalho vivo (…) o contrato pelo qual o trabalhador vendeu ao capitalista a sua força de trabalho prova preto no branco, por assim dizer, de que dispôs livremente de si mesmo. Concluído o negócio, descobre-se que ele não era um 'agente livre', que o momento no qual vendeu a sua força de trabalho foi o momento no qual foi forçado a vendê-la, que de facto o vampiro não largará a presa 'enquanto houver um músculo, um nervo, uma gota de sangue a ser explorada' (citação de um texto de 1845)." Como podem ver, esta simples e explicita citação demonstra claramente o que, infelizmente, no tempo em que vivemos, ainda acontece, está, claramente actualizada, se não ligarmos ao ano e à epoca em que foi escrita.

1º Capitulo: Proposta Nefasta

Estavamos nos inicios do mês de Junho e eu ainda estava na escola quando comecei a receber chamadas insistentes do meu antigo e primeiro patrão. De cada vez que ele me ligava, suspirava. Não estava com nenhuma disposição para passar dois meses na companhia daquele casal de uns cinquental e tal anos, arrogante e avarento, mas a minha mãe não queria ter-me em casa durante dois meses inteiros sem fazer nada a não ser, basicamente, comer e dormir. Em inicios do Estio, os dias eram já bastante longos e quentes. O clima abafado e quase sufocante para quem vive numa cidade, estava a tornar-se rapidamente insuportavel. Tal como eu, também a minha irmã mais nova tinha arranjado emprego, apesar de eu saber que ela tinha sido, sem sombra de qualquer dúvida, mais esperta do que eu, pois não se atreveu a voltar a trabalhar no mesmo sítio onde tinha estado precismanente um ano antes. Já eu, não tinha sido lá muito inteligente deixei passar o tempo sem me entregar à ardua tarefa de procurar um trabalho para estar entretida nas férias de Verão. Os dias foram-se passando rapidamente até que, certo dia, ou melhor, certa tarde, os meus antigos e primeiros patrões me apareceram à porta de casa com o seu semblante cinico, com sorrisinhos hipocritas que já não me tapavam os olhos como da primeira vez, e armados em salvadores da pátria (como se a nossa pátria tivesse salvação alguma!) e madres teresas de Calcutá, só porque pensavam que estavam a ser generosamente solidários ao darem-me emprego. Tretas. Eles estavam desesperados por angariar empregados para os aturarem no seu restaurantezeco, mas, não tinham grandes hipoteses pois as pessoas que lá trabalhavam uma epoca sazonal, geralmente, não voltavam e, as que voltavam, era por não terem arrajando um sítio melhor para trabalhar nas férias de Verão. Esse casalinho irritante e ignorante não se cansava de repetir, com ar falso, que eu podia estar à vontade com eles, pois, afinal nós eramos vizinhos. Aquela designação de vizinhos davam-me e ainda me dá, voltas ao estomago. Na verdade, nós não eramos vizinhos, nem tão perto disso. Falsos. Arrogantes. Oportunistas. Hipocritas. Selvagens. E outros tantos nomes depreciativos quantos hajam, se podem aplicar àquele casalinho desprezivel. Ainda pensei em só trabalhar no mês de Agosto porque ainda tinha uns exames pendentes, mas eles argumentaram que se eu não fosse trabalhar para eles, logo a partir do primeiro do dia daquele longo mês de Julho, poderia, no mês de Agosto, não ser necessária a minha ajuda. Tretas. E mais tretas. Um argumento estupido sem nexo algum, tal como eu pensei. Mas os acontecimentos posteriores só vieram confirmar e enfatizar as minhas desconfianças, estas prendiam-se com o facto de que, afinal, os meus queridissimos primeiros e antigos patrões, não tinham assim tantos empregados para integrarem o quadro de funcionarios necessário para pôr um restaurante com churrasqueira e comida para fora, juntamente com tres salas de refeições, a funcionar em pleno, com todas as condições laborais prescritas na lei portuguesa. Lei. Isto deixa-nos num impasse, no que dizia respeito a denunciar-mos as quebras e as infracções legais cometidas naquela espelunca a que muitos chamam de restaurante. Digo isto porque, em primeiro lugar, nós deveriamos ter um seguro laboral e eu desconfiava que tal não existisse pois se tal existisse, os pais dos empregados menores de idade deveriam de assinar toda a papelada burocrática requeridas pelas entidades competentes. O meu querido primeiro e antigo patraozinho, fazia os supostos seguros por telefone e somente nos pedia os nossos nomes completos e mais nada. Estranho, não acham? Pois, também eu achei! Em segundo lugar, nós, os empregados, nem deveriamos estar incritos nas finanças como trabalhadores legais daquele restaurante. O mau primeiro e antigo patraozinho tentou controlar as nossas desconfianças argumentando que, se nós estivessemos declarados como trabalhodres por conta de outrém nas finanças, teriamos que começar a fazer descontos para estas e a declarar os nossos rendimentos às mesmas e que não valia a pena estarmos incritos só por causa de dois meses de trabalho. Tretas, mais uma vez. Eu, na minha opinião, acho que, mesmo que se estivesse inscrita nas finanças, a pessoa que ia descontar eram os meus pais, pois eu ainda vivia com eles e estava a estudar, pelo menos, é o que eu penso. Mas, de uma coisa que tinha a certeza: se eles por acaso declarassem os funcionários que tivessem a trabalhar como eles, teriam que pagar mais e eles não eram nem são pessoas de se desfazer do seu precioso dinheiro. Em terceiro lugar, os meus primeiros e antigos patrõezinhos não tinham o sistema de pagamento por multibanco integrado no restaurante, com a desculpa de que teriam que pagar uma taxa não do quê para o terem, o que deixava alguns clientes, quer os habituais, quer os novos clientes, nada satisfeitos com o serviço. E adivinhem vocês quem é que tinha que ouvir os seus lamentos e queixas? Sim, estão certos, nós os empregados que os estavamos a servir. Depois haviam os filhos e as noras. Pessoalmente, eu só tinha respeito por uma das noras e por um dos filhos, porque, pelos outros, na minha opinião, não mereciam muito o meu respeito, ainda que eu não tivesse nada contra eles. Prefiro não mencionar os nomes destas personagens que eu estou a caracterizar, simplesmente para preservar a privacidade de alguns dos membros da sua família. Voltando à visita dos meus queridissimos e estimadissimos primeiros e antigos patrõezinhos, dos quais eu guardo tanta estima como a um monte de esterco de cavalo, estes, ao tomarem conhecimento, devido à grande boca da minha minha, de que eu estava desempregada, atiraram-se a mim como abutres tentanto obter uma grande refeição fácil. A sua filha será tratada como se fosse da família, diziam eles, com falsos sorrisos. Se o diabo existia, porventura, ele estava de férias na terra, misturados entre os humanos e alojado naquelas almas perdidas e maquiavelicas. Não vos é muito dificil adivinharem qual tinha sido a minha resposta. Sim, é verdade, aceitei, não por eles ou por pena deles, mas porque o dinheiro que podia ganhar, o ordenado e as gorjetas, me dariam alguma margem de manobra para comprar as minhas coisas sem ter que pedir dinheiro aos meus pais. Depois de se tratarem de alguns pormenores, nomeadamente, o dia e a hora em que os meus queridissimos e estimadissimos primeiros e antigos patrõezinhos, finalmente nos vimos deles e as energias negativas que os mesmos emanavam. Mas o que mais me fazia sentir repulsa daquele casalinho irritante, era a atitude e mentalidade fascista do marido da minha primeira e antiga patroazinha. Aquela atitude de tratar os empregados como se fossem gado, revoltava-me de uma maneira tal que eu nem a consigo exprimir por palavras. Simplesmente, não há palavras para a descrever. Costuma-se dizer que com a idade vem a sabedoria, mas no caso daquele casalinho, a sabedoria veio com outros atributos não tão louváveis, como a avareza, a arrogância e a falta de humildade e de honestidade para com os outros, para com os empregados e até mesmo para com os clientes habituais ou que pela primeira vez estavam a frequentar o seu restaurante e que, se não fossem eles estes, o seu negócio não lhe daria uma vida folgada e, sem esquecer os empregados que são uma importante peça no funcionamento, organização e limpeza daquele estabelecimento. Outra atitude pouco ética é a de estarem constantemente a falar mal dos vizinhos e dos donos dos outros estabelecimentos, isto para não falar dos clientes que frequentavam os ditos estabelecimentos (como se o restaurente deles e eles mesmos fossem exemplo para alguém neste mundo!). As aulas estavam a terminar e os dois meses seguintes avizinhavam-se negros, no ponto de vista da minha sanidade mental. Mas eu sabia o que me esperava naqueles dois meses e, para além da ansiedade para que o mês de setembro chegasse depressa, este já era o meu desejo no mês de Junho. A minha irmã chegou mesmo a dizer que eu era muito corajosa para voltar àquele sítio, afirmação da qual eu discordo pois era a parte na remuneração que eu estava focada, mas para isso, eu teria que aguentar dois meses de tortura psicologica e mental arrisco-me a afirmar que, houve dias em que a minha sanidade mental estava mais para lá do que para cá, em detrimento da dor fisica que, ao pé da dor mental, nem dava para comparar sequer. Mas já vos irei explicar isto melhor, à posteriori. Naquela tarde, em que tinha recebido tal honrosa visita, comecei a esboçar uma lista de coisas que teria que levar pois ia estar dois meses longe de casa. O essencial seriam a roupa e os produtos de higiene. Depois, não podiam faltar, como é obvio, alguns intrumentos tecnologicos para me entreter, ainda que o tempo para o entretenimento fosse bastante escasso ou, aundo esse tempo se porpocionava, era ocupado a descansar o corpo e a mente, de preferência, longe dos olhares indiscretos e cortantes dos patrõezinhos. De volta à minha lista de pertences indispensáveis para levar para o meu novo lar provisório, não podiam faltar os meus ténis, muita paciência e tolerância para não levar a sério as atitudes e os comentários dos meus queridissimos estimadissimos primeiros e antigos patrõezinhos. Nada melhor do que uma boa dose de paciência para os aturar, pois só facto de conviver com tal gente era pior do que apanhar uma moca da pior porcaria que se compra por supostamente relaxar (bem, se realmente relaxa como dizem, não sei, pois não sou simpatizante de tais susbstâncias nefastas para o corpo e a mente, humanos!). Sabem aquelas pessoas que têm a mania irritante de meterem o bedelho onde não são chamadas e de opinarem sobre a vida e as atitudes dos outros, mesmo não sabendo grande coisa da vida dessas pessoas? Pois, claro está, aquele casalinho mediocre é assim mesmo. Sem escrúpulos. Sem vergonha no focinho. Depois de a lista estar terminada e de o grande saco preto de desporto estar pronto para ser utilizado, só me restava esperar pelo dia da partida: o longo e fatídico primeiro de Julho. Outro ponto negativo a apontar àquele casalinho, é bastante comum no seio de nós portugueses, ainda que, como tudo, haja escassas excepções, mas que as há, felizmente, há. Refiro-me à pontualidade. O aparecer em determinado sítio à hora marcada. Para mim, a pontualidade é uma demonstração de respeito e apreço por outrém. Na noite anterior à partida, demorei bastante tempo a adormecer, não porque o dia seguinte fosse trazer, porventura, um dia animado ou excitante, mas porque a ansiedade e o meu conhecimento vivido do que iriam ser aqueles dois longos e desgastantes meses de Verão, me atormentavam a mente. dias depois de ter aceite a proposta nefasta do casalinho disbólico, recebi uma resposta a um anuncio que eu tinha posto numa entidade que trabalhava em conjunto com o centro de emprego, para trabalhar numa loja de roupa num centro comercial novo que estava prestes a abrir no sítio onde moro e tive que recusar, o que me arrependo e muito de ter feito, pois já tinha dado à minha palavra àquele casalinho desonrado. O trabalho num loja de roupa seria muito melhor e menos cansativo do que enfiada numa minuscula e imunda cozinha de um restaurentezo, longe das pessoas de quem eu gostava e rodeada de inimgos desconhecidos (rodeada de pessoas tão diferentes de mim!). Quando falo em imundisse não me refiro a sujidade fisica do espaço mas sim à sujidade mental dos meus queridos patrõezecos. Os dias desse mês de Junho foram passando e eu só desejava poder voltar atrás e mudar a asneira que tinha feito. Mas praeterita mutare non possumus, ou seja, não podemos mudar o passado.


2º Capitulo: A Viagem

Ainda era cedo, no dia da partida, quando eu já estava pronta para deixar a minha casa, os meus gatos , o meu quarto, que partilhava com a minha irmã mais nova, e a minha caminha, por dois longos meses. Ao contrário do ano anterior, em que tinha levado pouca coisa, e, apesar de só levar uma mala de desporto grande e a minha mala de tiracolo da escola, com os apontamentos para um exame que eu tinha que fazer, daquele primeiro de Julho a quinze dias, eu só não sabia como e quando é que ia estudar, estas pesavam chumbo. Os meus queridos estimadissimos primeiros e antigos patrõezinhos tinham-me que eu ia ter uma colega de trabalho que era de lá perto, ou seja, que eu teria que ajudar e explicar como funcionavam as coisas naquele restaurante, ainda que eu já não me recordasse de algumas coisas que tinha aprendido lá, mas que, com o treino, e lá no fundo do meu confuso inconsciente, eu ainda não as tinhas esquecido completamente.

...


E aqui fica um cheirinho das minhas demandas escritas...

Dia 21 de Fevereiro de 2011

Em tempos tive uma amiga muito especial, mas acabei por estragar tudo e já há bastante tempo que nao nos falamos, no entanto, esta carta pode nunca chegar à destinatária - Antes de mais, eu não sei se alguma vez vais ter acesso a esta carta, não sei onde nem como estás! Não sei o que estavas a fazer neste preciso momento nem mesmo no que tu estás a pensar sequer, mas eu gostava de te dizer algumas coisas, só é pena que não as possa dizer pessoalmente! Tenho tanta coisa para te dizer que nem sei por onde deva começar! Eu admito que a maneira como a nossa amizade terminou e o porquê, não foram as melhores, e também admito que tive culpa, muita culpa, no esquema, mas, depois destes meses e passados mais de dois anos, que estou arrependida e que esses erros me fizeram crescer por muito que isto pareça um cliché, aplicado à minha existência, é um facto consumado. Eu estava há pouco a reler as três cartas que tu me enviaste entre o mês de Julho e o mês de Setembro de 2006 e não pude deixar de recordar todos os momentos que passamos juntas: as brincadeiras e até mesmo as zangas. Acho que houve muita coisa que ficou por dizer, ainda que eu perceba o teu desinteresse, e não o censuro, em me ouvir. Apesar de tudo, eu não consigo guardar rancores em relação às pessoas, é claro que há uma outra excepção, mas tu não fazes parte dessa excepção. Antes de te conhecer, eu só tinha tido uma amiga de verdade, e não era a Marina, porque e apesar de ela ter sido da minha turma desde o quinto, isso não quisesse dizer que fossemos amigas. Eu só comecei a considera-la amiga, a partir do oitavo ano. Essa amiga de que eu estou a falar, chama-se Cecília, mas, por incrível que pareça, nós não nos zangamos nem nada parecido, simplesmente, os meus avós paternos não gostam dos pais dela (que são primos do meu pai) e as zangas entre eles acabaram por nos afastar. Mas, isto realmente não te interessa, enfim, ela foi a minha primeira melhor amiga. Hoje, não nos falamos. Ela cresceu e já não interessa pela minha amizade. Lembro-me de quando éramos pequenas, eu ia brincar para a eira (a eira é uma espécie de terraço em frente a um barracão antigo com portas de madeira onde se guardavam os cereais e as alfaias agrícolas, eu não sei se tu sabes do que eu estou a falar) da casa dela, que é ao lado da minha: brincávamos com as bonecas e fazíamos outras brincadeiras das quais eu já não me recordo; quando eu estava no quinto ano, se não estou em erro, e me mudei para a Gualdim, ela andava no oitavo ano e me ajudou a orientar na escola e me ajudava com os trabalhos de casa. Depois, quando ela saiu da Gualdim, eu fiquei sozinha, mas na altura, não sei se era por ser ingénua ou não, aquilo não me atormentava muito. Muitas das pessoas que eu conheço agora, só as conheci no secundário. Então, era só eu, e eu e os livros da biblioteca da Gualdim e mais ninguém. Tal como eu imagino que tu tenhas sofrido com o tratamento que alguns colegas te davam, eu também sofri imenso e isso acompanhado com os alguns choques que eu apanhei na primária e em casa só me fizeram sentir ainda mais isolada. Eu nunca me encaixei em nenhum grupo, eu era uma estranha. Nessa altura, a única pessoa com quem eu falava era a minha prima Cátia. Raramente, nos víamos mas quando isso acontecia, divertíamo-nos imenso. Numa das vezes em que eu dormi em casa dela, ela ensinou-me a andar de patins e eu adorei, apesar de ter batido algumas vezes com o rabo no chão. Provavelmente, algumas destas coisas eu nunca te contei, ou se contei, já não me recordo. Simplesmente, eu não me encaixava naquela escola, mas também, quem se iria quer importar com uma miúda como eu?! Enfim. Quando mudei de turma, não me senti mais feliz por isso, numa ou noutra eu sabia que não havia lugar para mim. Apesar de tudo o que aconteceu, eu tenho que agradecer por me teres dado o benefício da dúvida e teres vindo ao meu encontro. Hoje eu sei porque me trocaram de turma e, apesar de o motivo não ser dos melhores, eu não estou arrependida de te ter conhecido. Eu acredito que as pessoas aparecem na nossa vida por alguma razão, quanto mais não seja para nos abrirem os olhos e nos abanarem quando não estamos a ser correctos, é o que eu penso hoje. Houve momentos que passamos juntas que eu não quero esquecer nunca: nós no café ao lado da escola com a Andreia, a Marina, o Gonçalo e às vezes, o Pedro; as nossas brincadeiras; e muitas outras coisas que eu simplesmente não quero esquecer. Lembraste quando fomos passear no cemitério de Pombal?! Tu insistes-te e eu já nem me lembro do porquê! Mas acho que aquele passeio teria sido bem divertido à noite! Lembraste quando íamos para a internet no centro cultural em Pombal?! Ou quando íamos para o shopping?! Bem, as coisas que eu tinha que inventar para a minha mãe me deixar ficar em Pombal até mais tarde quando tínhamos a tarde livre. A partir do oitavo ano, a escola era o meu escape para os problemas em casa. Mesmo que nunca me chegues a perdoar: uma coisa é certa, eu não posso dizer que não fui feliz, nesses dois últimos anos na Gualdim, assim como na secundária. Se não o dissesse estaria a ser hipócrita. Voltando ao porquê de eu ter sido transferida de turma, a minha mãe sempre desviou a conversa mas, há pouco tempo ela contou-me a verdade: ela disse que ela e a minha DT do 7º ano estavam preocupadas com o meu isolamento e pelo facto de eu não falar nas aulas e andar sempre sozinha. E acharam que seria melhor para mim se eu mudasse de turma para conhecer outras pessoas. Segundo a minha mãe, elas achavam que eu era aquilo ao que chamo de retardada, só porque não gostava de falar para as pessoas e por andar sempre sozinha ou enfiada na biblioteca. Foi o que a minha mãe me explicou. Mas, retardada ou não, ainda bem que ela o fez, porque eu tive a oportunidade de te conhecer, ainda que tenha estragado tudo com o meu mau génio. Outra razão para eu ter que te pedir desculpa era o facto de eu estar constantemente a falar do Steven. Agora eu percebo quanto irritante eu era. Deves ter apanhado grandes secas à custa da minha cabecinha estúpida. Sabes, eu podia ter sido bem mais feliz se eu não o tivesse visto nem reparado nele. Eu abdiquei de alguém que gostava de mim por causa de estar de queixo caído por ele. E não estou a falar do Sérgio, mas acho que neste momento e sabendo no que essa pessoa se tornou, acho que não perdi nada em o ter rejeitado. Mas, o que sabia eu com treze anos?! Há uma situação engraçada em que eu fui a palhaça de serviço: lembraste de um dia em que nos estávamos a dar uma volta pela Gualdim e estava um dia chuvoso?! E lembraste do que é que fiz quando começou a chover bué de repente?! Fui abrigar-me debaixo de uma árvore sem folhas enquanto tu foste para a entrada da porta da rádio! Que cena tão triste a minha! Bem, eu há pouco tempo contei essa à minha irmã e ela fartou-se de rir às minhas custas. As vezes pergunto-me porque é que o tempo não pode voltar atrás! Se eu já tinha o inferno em casa naquela altura, hoje, a situação não só se mantém como está a piorar de dia para dia. Eu já não tenho forças para me conseguir erguer quando o barco está a afundar a uma velocidade estonteante. Hoje eu posso dizer que a minha casa é uma casa de malucos: a minha mãe anda insuportável por causa das asneiras e das atitudes do meu pai, ainda que eu saiba que ele já nos tenha abandonado há muito tempo; o meu irmão só se mete em confusões na escola e está na fase da rebeldia; a minha irmã tornou-se numa autêntica pega, enquanto eu só pude sair a partir dos dezoito anos e nunca o fiz, a minha irmã começou a sair aos dezasseis, apanha bebedeiras vergonhosas, sai as escondias de casa, grita com toda a gente, tem noites que não dorme em casa, está mais manienta e estúpida do que nunca e pensa que o mundo gira à volta dela; o meu pai deu cabo de duas décadas de vida da minha mãe, endividou-se até não poder mais, só se lembra de nós quando precisa de dinheiro e nunca se preocupou connosco; e eu, bem, eu estou desempregada e tive que desistir do meu maior sonho, que era concretizável, por causa do meu pai. Ora diz lá se isto não é uma família de doidos?! Ainda assim, eu tenho pais, ainda que a minha família não seja nada parecida com o que eu gostava que fosse, comparando com as famílias dos meus amigos. Sem falar nos meus avós paternos que sempre infernizaram a vida à minha mãe e nalgumas das minhas tias que são umas invejosas e sempre a meter o bedelho em tudo…Não sei se sabes, mas eu fiquei mais um ano na secundária, porque os três exames que eu fiz sem preparação de inglês foram um autêntico desastre. A escola estava em obras. A escola estava mudada e haviam imensos alunos novos. Muitas das pessoas que eu conhecia foram para a universidade e na secundária, fiquei eu, o Elton e mais umas miúdas minhas conhecidas que tal como eu também tinham disciplinas em atraso. Inscrevi-me numa turma de 10º ano, da área de ciências e tecnologias, na verdade foi a minha mãe que me inscreveu porque eu estava a trabalhar longe de casa na altura. Ela podia ter-me inscrito na de humanidades, pois tinha história, mas ela não sabia. Não me identifiquei com ninguém e apenas uma miúda chamada Liliana falava comigo. O pessoal da turma ficou admirado por eu já ter dezoito anos. Enfim, eu era e sou baixinha e as outras miúdas, algumas com catorze anos, eram bué altas e magríssimas. Tal como eu, também a Liliana tinha dificuldades a inglês, enato eu fiz uma coisa que eu nunca tinha pensado fazer, inscrevi-me voluntariamente nas aulas de apoio e tornei numa estudante aplicada, aquilo até parecia anedota para a minha mãe, ainda que ninguém acreditasse que eu fosse conseguir fazer a disciplina de inglês, excepto eu, que não me achava assim tão incapacitada para o fazer. Eu fazia todos os trabalhos de casa, e a minha professora mandava bués, e tínhamos por período um trabalho de apresentação oral em inglês, do género do que nos fazíamos para Português. Eu estudava e ia almoçar com a minha amiga Liliana. Mas uma coisa que me intrigava era porque é que aquela turma de betinhos não aceitava a Liliana, que tal como eles, tinha uns paizinhos ricos e vestia roupas de marca?! Mas, ao invés deles, ela não me excluiu. Depois, havia o Angel. Que ao contrário do que pensavam, não significava nada para mim, além de ser um amigo. Ele convidou-me para ir com ele para o Canadá há mais de um ano e eu aceitei, ainda que eu soubesse que as pessoas mudassem de ideias de projectos montes de vezes, principalmente quando se tem dezassete anos. Mas se a oportunidade aparecesse, eu não hesitaria duas vezes. No dia do exame de inglês, a professora vigilante era a nossa professora de Francês do 10º ano. Como a vida pode ser irónica, não é?! Eu estava nervosa, mas confiante. Acho que nunca tinha estado tão confiante em toda a minha vida. Eu ia fazer aquele exame por mim e pelo meu futuro mas também para provar às pessoas que eu não era nem sou burra nenhuma. No tempo de aulas, não tinha negativas nos testes, à excepção de ter tido um nove no primeiro teste e, eu fiz seis testes. No último tive treze, ponto nove. Se o exame escrito correu bem, então o exame oral superou as minhas expectativas. Eu só queria tirar um dez em ambos os exames, no oral e no escrito. No escrito, tive treze ponto um ou ponto dois e no exame oral tive dezassete. Bem, quando a professora me tinha dito que eu tinha estado a falar durante quinze minutos seguidos em inglês, eu até fiquei sem ar (o exame oral previa vinte minutos de avaliação), mas o que ajudou foi o facto de não estarem outros alunos na sala, pois eu estava muito mais relaxada. A minha nota final foi de catorze e foi essa noite que ficou como média na lingua estrangeira. Bah, estava tão entusiasmada com a escrita que acho que falei de mais. Adiante. Voltando ao sonho que eu tive que esquecer: eu já tive que abdicar de muita coisa na minha curta existência, mas esta foi a que mais me custou, a seguir à tua amizade. Eu inscrevi-me e fiz o exame de história e nem sei como tirei a nota que tirei, sem ter estudado grande coisa pois estava a trabalhar e não tinha tido tempo para estudar quase nada. Eu trabalhava das nove da manhã até, muitas das vezes, à uma e tal da madrugada. Aquele trabalho era um inferno, mas mesmo assim trabalhei lá durante dois verões seguidos. Nesses verões não tinha folgas. No primeiro verão só fiz mês e meio e ainda fui de férias na primeira semana de Setembro para o Algarve, mas no segundo eu fiquei dois meses e um dia de Setembro encarcerada naquela espelunca de restaurante. Só sai uma vez e durante quinze minutos mais ou menos, e ainda consegui ir à praia, que ficava lá ao lado para molhar os pés depois de ter ido com a minha colega lá a um bar beber um copo e eu sei que por a minha colega, ela queria dançar o resto da noite em vez de ir para o restaurante, mas não podia ser. Num espaço de dois meses, passaram nove empregados diferentes por aquele restaurante e grande parte deles nunca tinha trabalho ou, tido a necessidade de esforçar para ter algo na vida, eu ensinei cinco miúdas, tanto no trabalho de ajudante de cozinha, assim como a servir à mesa, mas elas não aguentaram muito tempo lá. Bem eu até acho que tu te passavas se trabalhasses lá. Os patrões adoram rebaixar os empregados e só estão felizes quando os empregados estão de mau humor ou sobrecarregados de trabalho, já para não falar das insinuações maldosas da patroa pelo facto de eu me dar bem com o rapaz que trabalhava na churrasqueira do dito restaurante e pelas bocas do patrão quando nós falávamos com as raparigas que trabalhavam nos restaurantes ao lado do deles. Posso dizer-te que: a melhor parte do dia era quando íamos ao mercado ou quando íamos despejar o lixo nos contentores, esta última parte parece desconfortável só para não lhe chamar outra coisa, mas estas eram a únicas alturas do dia em que nos poderíamos sair debaixo do olho de bruxa da patroa e de poder apanhar um pouco de ar e, claro, de ver o mar. no primeiro ano, a minha irmã trabalhou comigo ed quando tínhamos que levar o lixo era uma guerra, não por a minha irmã querer estragar a manicura mas por ela querer ir só para ir passear e nem tampouco queria por as mãos na massa, neste caso no caldeiro do lixo. Mas adiante, que eu já estou a divagar de novo. Na noite de 30 de Setembro saíram os resultados das entradas para a faculdade. Eu já estava a espera de ter entrado em Évora, quando a marinha me liga e me diz, aos gritos de alegria, que eu tinha entrado na universidade de Coimbra e na minha primeira opção (Arqueologia e História). Eu devia ter ficado feliz mas, ao invés disso, eu senti um grande aperto no coração, pois eu já sabia que não podia arranjar os papéis para a bolsa e o dinheiro que eu tinha na minha conta bancaria mal dava para as propinas. Nessa noite, o meu mudo desabou por completo.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Dia 6 de Janeiro de 2011 – 18:52

O ano ainda só começou há uns míseros seis dias e eu já me sinto impotente e sem expectativas ao que de bom ele poderia trazer-me. A cada dia que passa cada vez mais me afundo em revivalismos e utopias e a solidão apodera-se de mim como uma droga se apodera de quem a usa. Nesta noite chuvosa e de tempestade sinto-me perdida e sem nada mais a que me agarrar. Todos os meus sonhos nunca passarão de isso mesmo: sonhos. Sinto-me um trapo. Nem vontade tenho de me levantar da cama e de me arranjar. Até as necessidades básicas como comer ou até mesmo me pentear são um suplicio. Estaria a ser cínica se dissesse que nunca me tinha passado pela cabeça por um termo a isto tudo. Afinal, o que tenho eu a perder?! Na verdade, pouco ou nada. Aliás, pensando melhor, nada. Eu não tenho nada a perder se deixar este mundo, ainda que haja uma coisa que me atormenta e que eu gostava de resolver antes de partir, isto se eu conseguir a coragem necessária para o fazer, e estou a falar de ambas as coisas que ocupam a minha mente: abandonar esta vida e pedir perdão à única pessoa que consegui amar neste mundo. Foi um amor à minha maneira, ainda que haja pessoas que teimem em insistir na ideia absurda de que eu estava obcecada por ele. Sou culpada desde já por ter tirado fotografias dele do facebook e do hi5. Estou num estado lastimável e completamente sozinha e desamparada. Tal como o ex-líder do movimento dos direitos dos negros, Martin Luther King, assassinado em 1968, I have a dream. I have a dream a little more different than him. Mas o meu sonho é diferente do que ele tinha, ainda que identicamente a este, naquela altura, um tanto ou quanto utópico. Gostava de ter uma família normal. Unida e feliz. Mas ao invés tenho uma mãe que mal sabe tomar conta dela quanto mais de mim e um pai ausente que mais não faz do que nos fazer sofrer. Tenho consciência de que magoei algumas pessoas durante estes infortunados 19 anos de existência. Mas se tivesse oportunidade só pediria pedir perdão a uma dessas pessoas, ainda que de longe, sei que lhe causei alguns transtornos e que não fui correcta, sei que isto não é desculpa mas, eu era só uma miúda de 13 anos deslumbrada com o rapaz bonito e popular da escola. Eu era só a menina de 13 anos com óculos graduados, com uns quilinhos a mais e sem qualquer beleza. Que cliché. No fundo eu sabia que ele nunca iria olhar para mim, mas mesmo assim tive certas e determinadas atitudes condenáveis e, se fosse hoje e se eu pudesse voltar atrás seis anos, não voltaria a repeti-las, jamais. Gostava de saber o que vai cabeça dele, as duas hipóteses principais são: ele já se esqueceu das minhas figuras tristes, quando o seguia ou lhe mandava mensagens e nunca deu muita importância a isso, ou, ele ainda se lembra de tudo. Qualquer uma delas é provável, mas, aqui para nós, acho que, muito sinceramente, ele nunca ligou muito a isso, afinal ele tem mais coisas em que pensar. Mas eu não me esqueci e isso atormenta-me cada vez mais. Há ainda duas situações que gostava de expor. A primeira prende-se com o facto de eu o ter ofendido sem razão. Eu explico, ainda que já não me lembre muito bem de todos os pormenores: ele costuma dançar no átrio do Bloco C da escola onde eu andava. Oh e dançava mesmo bem, ainda que não percebesse muito daquele estilo de dança, e eu gostava imenso de o ver dançar. Ele parecia que tinha nascido a dançar. Ele costumava fazê-lo nos intervalos e haviam sempre muitos alunos a assistir. É claro que a minha ex melhor amiga andava sempre a gracejar pelo facto de eu insistir em ir vê-lo dançar. Eu até a compreendia visto que o, vamos chamar-lhe, estilo de vida dele não tivesse nada em comum com o meu. Era mais o oposto. Apesar das gracinhas e dos comentários o que me fascinava mais nele não era o seu aspecto físico, mas a maneira como ele dançava. Era fantástico. Adiante. Naquela manhã, não sei bem porquê, pouco antes de terminar o intervalo, decidi mandar-lhe uma mensagem. Raios, foi a coisa mais estúpida que fiz. O que lhe disse não foi sentido. Foi uma valente estupidez. Ele, e com toda a razão, respondeu. Aquilo que anteriormente era adrenalina tinha-se transformado me pânico. Não por ele ter ficado furioso, mas pelo que ele respondeu. Não me lembro da totalidade da mensagem, mas houve uma parte desta ficou gravada na minha mente, e era algo do género: “quando eu descobrir quem vais-te arrepender de me teres mandado mensagens”, era algo parecido com isto. Admito que fiquei cheia de medo. A segunda situação, mais longa no tempo, prende-se com uma mensagem em branco que eu recebi dum tal Jota. O mais curioso é que pouco tempo antes de ter recebido essa mensagem tive um sonho bastante estranho: lembro-me de estar sentada nas escadas que davam para o primeiro andar do Bloco A da minha antiga escola e o meu telemóvel começava a tocar, e tocar incessantemente. Eu tentava desligar o som, mas não conseguia. Isto foi o que ficou desse sonho. Agora, vamos ao que se passou: eu estava com duas amigas e estávamos sentadas no muro de pedra que rodeava um grande canteiro, perto do campo de jogos da minha antiga escola. Ele estava perto, bastante perto até, e estava sozinho, sentado num dos bancos de pedra, a poucos metros de mim e das minhas amigas. De repente, o meu telemóvel começa a tocar e eu fiquei tão atrapalhada que demorei algum tempo a tentar desbloqueá-lo. As minhas amigas levantaram-se e correram para mim. O meu coração estava aos pulos. As minhas amigas queriam saber de quem era a mensagem mas eu manei-as sentar e ficarem quietas. Foi então que eu olhei para ele, e ele estava com o telemóvel na mão e olhava muito intrigado na minha direcção. Eu sentia-me a corar e doía-me a barriga. O coração parecia que ia implodir dentro de mim. E foi assim que comecei a trocar mensagens com o tal Jota. Apesar de as minhas amigas terem zombado da minha teoria absurda de que o nome Jota não era verdadeiro e que era ele que me mandava mensagens. Ao principio até eu duvidei disso. Mas houve indícios que me fizeram apostar nessa hipótese: primeiro, ele disse que andava numa escola diferente da minha e que tinha treze anos, portanto e, supostamente, era mais novo do que eu, mas algo não batia certo e um dia ele mandou-me uma mensagem a perguntar o nome da minha irmã ou se a minha irmã se chamava carina, sinceramente já não me lembro bem. Mas eu nunca tinha mencionado sequer que tinha uma irmã. Tentei marcar vários encontros mas, estranhamente, ele tentava-se escapar a todos e numa dessas escapadelas, zangamo-nos, tudo isto por mensagem obviamente, e ele chamou-me pita. Isto para as pessoas normais era só mais um insulto mas, para mim, só me dava mais certezas acerca da mentira que ele construiu. Enfim, acabei por nunca descobrir quem ele era. Porque raio me tinha mandado mensagens. O que pretendia. Hoje, sinceramente, acho que quem quer que ele fosse, partindo do principio que era um ele, tipo, agora que estou a reviver estas situações não percebo como é que eu não pus a hipótese de esse tal Jota ser uma rapariga. Seja como for, agora penso que ele ou ela só estavam a gozar com a minha pessoa. Apesar de tudo o que falámos e de tudo o que eu disse ao Jota, do qual já não me lembro de quase nada, está tudo muito fragmentado na minha memória, eu não era completamente ingénua. Desde que tinha posto na cabeça que ele poderia ser o Jota, o que me ocorreu logo no princípio, com a primeira mensagem, ainda que possa ter sido só uma coincidência, e ainda que isso não me convença totalmente, eu medi bem as coisas que revelei sobre mim e era muito cautelosa nas mensagens. Tenho pena de já não ter o número do Jota, devo tê-lo perdido aquando do colapso da bateria do meu primeiro telemóvel. Mas, o que poderia mudar se eu conseguisse retomar o contacto com esse tal Jota? Quem me garante que não era a namorada dele da altura, a fazer-se passar por rapaz, depois de ter sacado o número do telemóvel dele. Jota poderia muito bem ter sido uma rapariga. Mas há uma coisa que eu gostava de um dia poder dizer, aliás, até há duas coisas: gosta de lhe pedir desculpa e que ele me perdoasse e gostava de ser amiga dele.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Sonho estranho

Tenho tido um sonho recorrente em estranho.
Não me lembro dele na totalidade mas vou explicar o melhor que posso. sonho que estou na entrada da minha antiga escola, ou ate mesmo dentro da escola, na qual eu terminei o ensino básico.
Estão la pessoas quer da minha antiga escola, pessoas essas que a já não vejo há bastante tempo, quer da escola onde eu ando agora e que não conheço.
Estou sozinha.
Outras vezes estou acompanhada, embora nao conheca as pessoas.
De repente, do nada, aparece um rapaz que andou nessa escola ao mesmo tempo que eu e pelo qual eu tive uma paixoneta quando era mais nova.
E estranho.
Por vezes sorri para mim e fala comigo.
Ou então passa por mim como se eu não existisse.
O sonho e a cores.
Eu nunca falei com esse tal rapaz que aparece.
Eramos de turmas diferentes e nunca falamos nem nos conhecíamos sequer.
Ao principio não dei importância ao sonho, mas tenho este sonho tão frequentemente que tenho curiosidade de saber o porque e o que isso significa.
Tenho esperança que alguém me possa ajudar.
Se por acaso passares por aqui e leres este post e me puderes ajudar, agradeço.
Toda a ajuda e bem vinda.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Nostalgia

A nostalgia tomou conta de mim...
Sinto-me melancólica, perdida de mim.
Hoje não me peçam sorrisos...
Lágrimas são tudo o que vos posso oferecer neste momento!...
A vida continua a fintar-me, a pôr-me à prova e às vezes confesso que não estou à altura.
Hoje é um desses dias.
Apetece-me pura e simplesmente desistir.
Pôr um letreiro em mim a dizer: "Fechado" .
Oscilo entre a vontade de gritar e de me esconder de todos.
A minha paz interior, anda arredia e eu não gosto deste clima de "guerra" de descontentamento...
Sinto-me inútil, impotente, deslocada, estranha e intrusa...
Como se não pertencesse aqui ou a lugar algum.
Sinto que não posso cair, simplesmente pelo facto, de não ter ninguém que me ajude a levantar!
A revolta que sinto é tão grande...
A decepção tomou conta da minha alma...
Por isso hoje não me peçam sorrisos...
Seria uma traição à minha dor!...

A morte

A morte,
Que tanto desejo...
Morte,
Que tantos receiam...
Palavra temida,
Desejada...
Formada por ódio por ódio,
Receio,
Arrependimento,
Tristeza, e amor.
Por quê amor?
Acredita mesmo que o mundo é rosa e todos somos felizes?
Como és tolo.

Existem demónios,
Existem anjos,
E, existem humanos.
Não sei qual temer.
Demónios com sua malícia,
Anjos com sua pureza, ou
Humanos com seu "poder".

Temo a mim mesma.
Tenho malícia,
Tenho pureza,
Tenho poder.
Poder de controlar aqueles que vivem em minha volta,
e fazer o mundo parar, e girar em minha volta.

Mas, anseio a morte.
A escuridão me dominou, mas.
Palavras são apenas palavras.
Elas não têm poder,
Não para mim.
Quero acção, não discursos, sem fins.

Quero ver sangue jorrar,
E cabeças a rolar.
Meu espírito anseia por companhia.
Solitário e entorpecido.
Desmaia sobre a água.
Pede por socorro.
Atendo rapidamente com as mãos sujas de amor.
Recém nascido.
Mas, afogueia, a vida é traiçoeira.
Meu espírito morreu.
Mas, e o teu?
Não aguento mais,
Talvez seja amanhã, ou semana que vem.
Talvez não.
Mas, um dia a morte chegará
Então, para que lutar?
Se todos vamos morrer.
Todos querem vencer, tornar-se poderosos,
todos vão para mesma porra de lugar!
Um dia, todos morreremos, então para que esperar?